Na Umbanda, chamamos as alterações que ocorrem na postura do médium durante a incorporação de formas fluídicas. Muitas vezes costumamos identificar cada entidade apenas observando a forma fluídica com que se apresenta. Existem pessoas que defendem que esta forma fluídica seja simples resquício da última encarnação da entidade, e se apóiam nesse contexto para afirmarem que as entidades de Umbanda não são evoluídas por “ainda carregarem os vestígios de sua última encarnação”.
Acontece que não é bem por aí…
Num primeiro exemplo, quando da primeira manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas (aqui) na Federação Espírita de Niterói, um vidente interpelou a Entidade dizendo que ele se identificava como um caboclo, mas que via nele restos de trajes sacerdotais.
O espírito respondeu então:
” O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre e o meu nome era Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761. Mas em minha última existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como caboclo brasileiro.”
Em outro exemplo, há um Exú mirim em nossa casa (brincalhão que só!) que várias vezes nos disse que o preto velho Pai Joaquim, que incorpora na nossa dirigente, quando não incorporado, em nada se assemelha aquele velhinho curvado que se apresenta no terreiro falando com dificuldade.
Então, considerando que nem sempre a forma fluídica da entidade vai corresponder a sua real aparência, por que sempre se apresentam com essas formas fluídicas?
Existem pelo menos dois aspectos muito interessantes para isso.
O primeiro, e definitivo, é que cada entidade, portadora de um mistério, quando se apresenta através da incorporação trás consigo a energia desse mistério, que atuando sobre o cérebro de carne do médium vai causar aquele tipo de reação em seu corpo físico.
Para ficar mais fácil de entender, seria interessante primeiro ver a correspondência entre os Orixás e a Cabala (aqui), ter uma noção sobre as sephiroths da cabala e observar a resposta do Marcelo Deldebbio sobre o assunto:
— Pergunta:
Paulo disse:
Ola MDD tudo bom?
Deixe eu lhe perguntar uma duvida minha:
Existe determinados livros que dizem que todo o (por exemplo) Caboclo de Oxossi tem que ter as mesmas características (ex: se locomover muito, dançar e outras). A minha duvida é, todo o Caboclo de Oxossi tem que possuir uma ou todas essas características? Caso ele não possua nenhuma dessas características e se diga um Caboclo de Oxossi, o que esta acontecendo?
Agradeço a sua atenção!!!
— Resposta:
@MDD – as características não são “do caboclo”… são da energia daquela esfera interagindo com o cérebro de carne do médium e causando nele aquele tipo de reação com seu corpo físico. ISSO é a origem, o nome é conseqüência disso…
exemplo: uma vez, conversando com uma preta-velha, pedi a ela que me mostrasse o que é a energia dos pretos-velhos (Binah). Ela preparou umas ervas, esfregou em alguns chakras, bafejou o cigarro e… eu senti como se uma pessoa tivesse montado de cavalinho nas minhas costas. quase fui pro chão… meus braços pareciam estar carregando sacos de batatas e minhas pernas ficaram doloridas… meu corpo parecia moído depois de dez treinos de kung fu e eu mal conseguia parar em pé… ai ela falou “pega aquela vela pra mim, fio” e eu tentei andar, mas meu corpo mal respondia… fui quase me arrastando, pernas curvadas, costas arqueadas e tremendo todo… exatamente como os médiuns ficam… ai ela riu e falou “viu, fio? nem todo preto velho é preto ou é velho kkkkk”. Eu senti que a energia de Binah, quando conectada a este corpo físico, causa essa reação do corpo do médium e DEPOIS disso ocorrer é que foram criadas essas “explicações” de serem velhos, serem idosos, etc… as danças de giros de Iansã, os movimentos “bêbados” dos marinheiros, giros de boiadeiros, gritos de xango, batidas no peito, exus se arrastando… tudo isso são reflexos de entidades sem formas físicas tentando se adaptar a corpos humanos.
Então o caboclo se apresenta como “Oxóssi” porque ele trabalha em Chesed e a energia de chesed faz com que o médium responda daquele jeito, assim todo caboclo de Oxóssi se comporta do mesmo jeito… mas é conseqüência, não causa.
…….
Quanto a isso, nem há o que acrescentar.
O segundo aspecto é que o resultado é “muito conveniente”.
Como abordado anteriormente aqui, aprendemos com os egípcios que a encenação dramática de vários princípios facilita a instrução, de modo que as lições são mais facilmente impressas na mente dos alunos. Tanto os rituais quanto os arquétipos representados nas formas fluídicas são um poderoso recurso psicológico, que abreviam em demasia o tempo que leva para a absorção e compreensão de valores mais elevados por parte de todos, sejam neófitos, praticantes ou simples consulentes.
Desta forma, o simples estar na frente de um caboclo de Oxóssi já vai começar a despertar em nosso sub-consciente a rigidez moral que este arquétipo representa, muito mais que ler ou ouvir uma palestra sobre o tema. E assim sucessivamente, com a humildade do Preto Velho, com a pureza de um Cosme, etc.
Então, deste modo, é muito mais fácil compreender o por que das formas fluídicas apresentadas pelas entidades de Umbanda. Na próxima vez que algum adepto de outra religião lhe criticar a postura das entidades incorporadas você já sabe o que responder.
Para completar, algumas características físicas das incorporações:
- Caboclas de OXUM: Geralmente são suaves e costumam rodar.
- Caboclos de OGUM: Sua incorporação é mais rápida e mais compactada ao chão, não rodam.
- Caboclas de YEMANJÁ: Incorporam de forma suave, porém mais rápidos do que os de Oxum, rodam muito, chegando a deixar o médium tonto.
- Caboclos de XANGÔ: São guias de incorporações rápidas e contidas, geralmente arriando o médium no chão.
- Caboclas de NANÃ: Vêm incorporadas de forma calma, curvada e com movimentos circulares nas mãos, muito associada também aos pretos-velhos, pouco dançam.
- Caboclas de IANSÃ: São rápidos e deslocam muito o médium. Também rodam muito, chegando a deixar o médium tonto.
- Caboclos de OXALÁ: São “compactados” para incorporar e se mantém localizado em um ponto do terreiro sem deslocar-se muito.
- Caboclos de OXÓSSI: São os que mais se locomovem, são rápidos e dançam muito.
- Caboclos de OBALUAÊ: Sua incorporação parece um Preto-velho, em algumas casas locomovem-se apoiados em cajados, assemelhando-se a uma pessoa muito idosa, cansada pelos anos. Movimentam-se pouco.
- Cosme: O semblante do médium fica suave, sua voz mais fina e sempre com aquele ar de criança. A sensação é de felicidade imensa.
Olá, parabéns pelo site!
Essa questão de umbanda com Kaballa ainda é muito complexa pra mim.
MInha dúvida é que já vi o MDD comentar que as entidades da umbanda são de Devas à Espíritos planetários, e não desencarnados. E que são os mesmos das ordens iniciáticas, esotéricas, etc.
o que vc diz sobre isso? pois foge um pouco da tradição da Umbanda, que são espíritos desencarnados em graus de evolução e sabedoria.
Olá Guilherme, Salve sua Força.
Na verdade, você vai encontrar várias categorias de espíritos se manifestando na Umbanda, principalmente desencarnados.
Entre as Caboclas de Oxum por exemplo, você vai encontrar elementais.
Já, Pretos Velhos e Caboclos, normalmente são espíritos humanos desencarnados, em estado evolutivo muito superior ao nosso. Um exemplo clássico é o do Caboclo das 7 encruzilhadas (Zélio Fernandino de Moraes) no advento da Umbanda (aqui).
Eu não lembro de ter visto (lido) o MDD excuir os desencarnados, enfim…
Quanto a serem os mesmos das ordens iniciáticas, podem sim, perfeitamente; não como regra mas como opção. A Religião dogmática é coisa dos homens encarnados. Existem para ajudar na evolução dos homens se adequando as nossas necessidades ou capacidades de entendimento. No astral, não há separações ditadas por dogmas. Poderiamos dizer que a religião existente no astral se chama “amor”. Toda oportunidade de trabalho para ajudar na evolução da humanidade é sagrada e os espíritos evoluídos, ou em evolução, vão optar por atuar em uma ou várias egrégoras onde se sintam afinizados.
Por fim, não sei se você já viu essa palestra do MDD “A Kabbalah e os Deuses de todas as Religiões” (aqui). Se não viu ainda, vale a pena; vai facilitar muito o porque tem se falado em Umbanda e Kaballah. Tem ainda esse texto do Igor Teo que é bem elucidativo sobre a universalidade da Kaballah (aqui). Espero ter ajudado.
Obrigado pela visita e fique na Paz de nosso Pai Oxalá.