Por RUBENS SARACENI
Observando a forma como surgem os centros de Umbanda e conversando com muitas pessoas que dirigem seus centros, cheguei a algumas conclusões aqui expostas e que, espero, não despertem reações negativas, mas, sim, levem todos à reflexão. Só isto é o que desejo, e nada mais. Todos os dirigentes com os quais conversei foram unânimes em vários pontos:
a) foram solicitados pelos seus guias espirituais para que abrissem suas casas.
b) todos relutaram em assumir responsabilidade tão grande e, de início, se sentiam inseguros e não se achavam preparados para tanto.
c) todos só assumiram missão tão espinhosa após seus guias afiançarem-lhes que tinham essa missão e que teriam todo o apoio do astral para levá-la adiante e ajudarem muitas pessoas.
d) todos sentiam, então, que lhes faltava uma preparação adequada para poderem fazer um bom trabalho como dirigente espiritual.
e) todos confiavam nos seus guias espirituais e no magnífico trabalho que eles realizavam em benefício das pessoas.
f) todos se sentem gratos aos seus guias por tê-los instruído quando pouco ou quase nada sabiam sobre tantas coisas que compõem o exercício da mediunidade e sobre sua missão de dirigir uma tenda de Umbanda.
g) mas todos ainda acham que há algo a ser aprendido e acrescentado ao seu trabalho, mesmo já tendo muitos anos de atividade como dirigente e de já haver formado médiuns que hoje também já montaram e dirigem suas próprias casas.
Bem, só com essas observações acima, já temos um retrato fiel dos dirigentes umbandistas, e posso afirmar com convicção algumas conclusões a que cheguei:
a) na Umbanda, o sacerdócio é uma missão.
b) o sacerdote de Umbanda (a pessoa que deve dirigir um centro e comandar os trabalhos espirituais) não é feito por ninguém; ele já traz desde seu nascimento essa missão.
c) só consegue dirigir uma tenda quem traz essa missão, pois esta também é dos guias espirituais.
d) mesmo não se sentindo preparado para tão digno trabalho, no entanto, a maioria crê nos seus guias, que suprem essa nossa deficiência e vão nos ensinando coisas muito práticas que, com o passar dos anos, se tornam um riquíssimo aprendizado.
e) todos gostariam de se preparar melhor para o exercício sacerdotal, ainda que já sejam ótimos dirigentes espirituais.
f) todos leem muito sobre a Umbanda e procuram nas leituras informações que os auxiliem no seu sacerdócio.
g) muitos fazem vários cursos holísticos para expandirem seus horizontes e a compreensão do que lhe foi reservado pela espiritualidade.
h) todos gostariam de ter alguém (uma escola, uma federação, uma pessoa) que pudesse responder certas dúvidas que vão surgindo no decorrer do exercício da sua missão.
O que deduzi é que ninguém faz um dirigente espiritual, porque só o é ou só o será quem receber essa missão dos seus guias espirituais. Mas, se assim é na Umbanda, no entanto, o exercício do sacerdócio pode ser organizado, graduado e direcionado por uma “escola”, e isto facilita muito, porque traz confiança e orientações fundamentais ao dirigente espiritual.
Devíamos ter na Umbanda mais escolas preparatórias tradicionais que auxiliassem as pessoas que trazem essa missão, tornando mais fácil as coisas para elas. E, lamentavelmente, além de só termos alguns cursos voltados para esse campo, ainda assim, quem ousou montá-los é injustamente acusado de charlatão, embusteiro, aproveitador e outros termos pejorativos.
Eu mesmo já sofri todo tipo de discriminação, de calúnia, de ofensas e de acusações, que espero que cessem, pois os umbandistas acabarão por entender que todas as religiões têm escolas preparatórias dos seus sacerdotes. Só assim, com todos aprendendo e se preparando melhor para sua missão, a nossa religião conseguirá organizar-se e expurgar do seu meio os espertalhões cujos atos têm refletido negativamente sobre o trabalho sério de todos os verdadeiros umbandistas.
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Texto editado do livro Tratado Geral de Umbanda, de Rubens Saraceni / Ed. Madras
Publicado no Jornal de Umbanda Sagrada Ano XV, nº 174, Nov 2014