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O eu cindido no fenômeno mediúnico

Extraído do excelente livro Psicologia e Mediunidade (clique no título para baixá-lo) de Adenáuer Novaes

Todo indivíduo que exerce a mediunidade ostensivamente e por muito tempo flexibiliza naturalmente a relação entre a consciência e o inconsciente de tal forma que as portas deste último ficam por demais abertas. É natural que corra o risco de assimilar os símbolos existentes no inconsciente, vivenciando-os novamente.

O ego não só fica exposto às influências dos complexos como também à maior possibilidade de identificar-se com personas vividas em outras encarnações. A identificação do ego com uma persona* do passado reencarnatório pode ocorrer sempre que uma experiência emocionalmente forte tenha sido vivida pelo espírito sem que ele tenha conseguido dela desligar-se.

A mediunidade exercida com equilíbrio exige um ego maduro e estruturado** a fim de que essa possibilidade seja reduzida.

Quando ela ocorre dá-se uma espécie de cisão no ego que fica dividido entre a realidade atual e os conteúdos inconscientes. Um ego maduro e estruturado é aquele que, dentre outras qualidades, guarda uma estreita relação com o Self, é auto-determinado, sabe evitar identificar-se com a psiquê coletiva, bem como separa sua vida privada de sua tarefa mediúnica. O médium cujo ego é maduro não se auto-intitula missionário nem aceita tal condição.

Não vive exclusivamente este papel, por conta da necessidade de viver a vida na matéria, imerso nas ocupações normais da sociedade encarnada.

A cisão do eu, típica na esquizofrenia, pode ocorrer no fenômeno mediúnico em face da profunda conexão entre mentes que se alinham numa mesma freqüência, quando uma delas sucumbe à outra. Na esquizofrenia a cisão não tem o devido controle nem é consciente ao indivíduo, que, impossibilitado de qualquer coisa fazer, se vê em realidades distintas e conflituosas. Num momento se vê envolvido por uma experiência vivida no passado reencarnatório, noutro se vê em contato com entidades desencarnadas e noutro ainda se percebe vivendo na realidade atual. Muitas vezes as três experiências emocionais se juntam promovendo um grande transtorno psíquico. No fenômeno mediúnico não é muito diferente, porém o eu que se cinde não perde o domínio sobre aquele que deseja se comunicar, nem tampouco sobre suas próprias experiências pregressas.

Mesmo nos momentos de lucidez e de efetivo contato com a personalidade atual, consciente da realidade, o portador da esquizofrenia sabe que sua mente vive em constante instabilidade, na qual a cisão pode ser inevitável.

No transtorno psíquico, a cisão do eu caracteriza-se pela perda do controle sobre a consciência, onde o ego não consegue o domínio de seus conteúdos, isto é, torna-se incapaz de manter-se como ordenador daquele campo. No fenômeno mediúnico, muito embora possa haver perda do controle sobre a consciência, o próprio médium, temporariamente desconectado de parte dela (córtex), mantém o controle sobre o que ocorre. A consciência é mantida, porém a energia psíquica não está totalmente voltada para seus conteúdos, o que caracteriza um estado alterado dela. Essa cisão decorre de um poderoso mecanismo de desconexão do ego, que perde sua autonomia pelo predomínio que permite a outro ego expressar-se.

Quando o ego se identifica com uma ou mais personas (ego-identidade) , ou quando se conecta com um intenso complexo emocional inconsciente, pode também, caso não haja controle do médium, haver uma cisão.

A cisão do ego-identidade presente decorre de uma fragilidade por conta da não aceitação de si mesmo e de uma identificação externa não consciente. A identificação do ego atual com uma persona passada também decorre da intensidade como ela foi vivida, da importância que atribui a ela e das influências espirituais que ele atrai.

O fortalecimento do ego-identidade é fundamental para que aquela identificação não se dê ou para que tenha pouca influência.

Esse fortalecimento, que será importante para evitar a cisão do eu (ego), é favorecido pelos estímulos maternos e paternos na idade infantil (primeira infância) até a adolescência. Estimular é identificar reais qualidades na criança e verbalizar a ela sua importância e uso adequado de suas habilidades.

No início da puberdade (geralmente a partir dos 9 anos) a reencarnação do espírito ainda está por se completar e o egoidentidade que ele está formando ainda se encontra tímido e não constituído integralmente. É nessa fase que o indivíduo se torna suscetível aos estímulos oriundos de figuras referenciais (pai, mãe, irmãos mais velhos, amigos etc.), como também propenso à assimilação dos componentes característicos de personas de vidas passadas.

A mediunidade explícita nesta fase tende a contribuir para a cisão do eu, se não devidamente educada. A criança que a apresente deve ser devidamente orientada, sem repressões dogmáticas, nem estímulo ao uso irresponsável.

Nas esquizofrenias e em certas psicoses nas quais o eu se encontra cindido, a mediunidade também é componente que contribui para que tal cisão ocorra. Nelas a educação mediúnica deve ser feita a partir da provocação de um temporário bloqueio.

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* O termo persona deriva das máscaras que os atores gregos usavam para os diversos papéis ou personalidades que interpretavam. É o aspecto ideal do eu que se apresenta ao mundo e que se forma pela necessidade de adaptação e convivência pessoal. É o que se pensa que é. Muitas vezes a persona é influenciada pela psiquê coletiva confundindo nossas ações como se fossem individuais. Ela representa um pacto entre o indivíduo e a sociedade, sendo um conjunto de personalidades ou uma multiplicidade de pessoas numa só. A identificação do ego com a persona, quando ocorre, provoca o afastamento de nossa identidade pessoal, isto é, corremos o risco de não sabermos quem realmente somos. (Conceito extraído do livro ´Sonhos:mensagens da alma´, do autor)

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** Falando em “ego maduro e estruturado“, aqui segue o link para um excelente exercício publicado por Jeff Alves no TDC:

Um Experimento de Percepção para Explodir sua Cabeça

Compartilho com você uma visão para ampliar nossa experiência além de eu e outro, tempo e espaço, dentro e fora. Para funcionar, é preciso que dedique 10 minutos e conduza sua percepção tomando os 22 itens abaixo como guia….

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crédito da imagem: imagem promocional do filme “Eu, eu mesmo e Irene” – 20th Century Fox

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