Oxalá pode se apresentar de duas formas: OXAGUIAN, jovem guerreiro ou OXALUFAN, velho apoiado num bastão. Cada qual com características e ferramentas distintas.
Oxalufan
Opaxorô
O Opaxorô é o cajado que Oxalufan trás nas mãos para se apoiar.
Ele é o principal símbolo do Orixá, um cajado normalmente com 3 ou 4 círculos em forma de prato, é construído (segundo diversos autores) com metal prateado, de madeira, ou ainda feito do cipó de uma planta chamada Atori (glyphaea lateriflora abraham) substituída no Brasil por Amoreira ou Goiabeira. Pode ser ornamentado por diversos pingentes representando todos os Orixás ou, conforme a lenda a abaixo, representando Oxum.
“Durante a separação do céu e da terra,
Oxalá perdeu seu cetro, símbolo da luta pelo governo do mundo,
Presente do derrotado, seu irmão, Bará,
Dono de todos os caminhos.
Coube a Oxum recuperá-lo da profundeza das águas,
E carregá-lo por todos os reinos,
Por cada uma das encruzilhadas de Bará
Antes de devolvê-lo ao governante.
Ao fim da jornada,
Oxalá determinou que o leque e o pombo,
Símbolos da rainha do amor, fertilidade e beleza,
Marcassem eternamente seu báculo.
Dos caminhos por onde os pés de Oxum passaram,
Do chão e do pó da estrada,
O cetro aprendeu histórias,
Adquiriu, magicamente, voz própria, passando a contá-las.
Surgiu um instrumento com o poder de religar o céu e a terra.
Assim, os orixás puderam retornar ao mundo.
Nasceu o cetro que fala:
Opaxorô, o cetro dos ancestrais.”
José Ricardo da Costa em sua dissertação de mestrado, traduz Opaxorô como “O Cetro que Fala” (Opá + Soro), que representa a própria oralidade, significando ainda, a tradição. Essa tradição irá governar o mundo, através da transmissão, pela voz e pelo corpo, da sabedoria dos antepassados.
Raul Lody descreve Opaxorô como ” ferramenta ritual de Oxalá, marcando a ancestralidade, sabedoria e experiência… o Opaxorô pode significar sinteticamente uma árvore, um cajado para apoio e condução, distintivo de ancestralidade e de poder político, social, moral e ético, marcando visualmente a síntese da criação e o emblema dos ancestrais…o Opaxorô concentra plenamente o valor vertical e fálico-agente da fertilidade, garantia de fartura e fecundidade… o Opaxorô afro-brasileiro é objeto consagrado a Oxalufan nos terreiros ketu/Nagô, estendendo-se ao Vodun Olissá, e ao Inkísse Lembarenganga, seguindo o modelo único e convencional, dinamizado artesanalmente…Opá – viga, pilar ou estaca, em Yorubá. Òs òòrò – quer dizer também, em Yorubá, pingo de goteiras ou cascata. Literalmente, Opaxorô, bastão de goteiras…”
Quanto as suas divisões, segundo Fernando D’Osogiyan(O Candomblé), as 4 divisões do Opaxorô são as 4 grandes camadas que envolvem a terra, aí está a divisão do Orun e Aiye, ao fincar do Orun ele passa pelas 4 camadas e toca a terra.
Para a versões com 3 divisões, o mais comum é ouvir que os três pratos que fazem parte do cajado simbolizam a sua supremacia sobre os mundos dos seres humanos, dos eguns (desencarnados) e dos Orixás.
O Pano Branco – Alá
Na África, todos os Orixás relacionados com a criação são designados pelo nome genérico de Orixá Fun Fun. O mais importante entre todos eles chama-se Orixalá (Òrìsanlà), ou seja, o grande Orixá, que nas terras de Igbó e Ifé é cultuado como Obatalá, rei do pano branco. Eram cerca de 154 Orixás Fun Fun, mas no Brasil e na Europa a quantidade reduz-se significativamente, sendo que dois, Orixá Olùfón, rei de Ifón (Oxalufan) e Orixá Ógìyán, o comedor de inhame e rei de Egigbó (Oxaguian), se tornaram as suas expressões mais conhecidas.
O branco representa todas as possibilidades, a base de qualquer criação. O nome Orisanlá foi contraído e deu origem à palavra Oxalá, e com esse nome o grande Deus-pai passou a ser conhecido no Brasil e na Europa.
O Alá representa a própria criação, está intimamente relacionado com a concepção de cada ser; é a síntese do poder criador masculino. A sua função primeira já remete ao seu significado profundo. A ação de cobrir não evoca somente proteção, zelo, denota a atividade masculina no ato sexual.
É o pano que cobre Oxalufan no ritual “As Águas de Oxalá”.
Coroa – Adé
Originalmente todos os Orixás ligados a um tipo de realeza usam a Coroa: Oxalá, Xangô, Iemanjá, Oyá, Obá,Oxum e Oxóssi.
No caso de Oxalufan, a Adé funfun (Coroa com franjas brancas).
Oxaguian
Pilão – Ojò Odò
O mais característico símbolo de Oxaguian, representa a calma necessária, como o ato de pilar o inhame lenta e continuamente, para equilibrar com a espada que simboliza a luta.
O pilão de Oxaguian é sempre de duas bocas exatamente iguais, por que representa também a justiça com equilíbrio justo para os dois lados.
Uma lenda conta que Oxaguian recebeu uma cabeça que era muito quente e vivia em guerra (pode ser entendido como a espada) e a trocou (sobrepôs a esta cabeça uma cabeça fria) por uma mais fria e se tornou então muito retraído (pode ser entendido com a mão de pilão, em referência a calma necessária para o preparo do inhame pilado). Mas aí entra na história Ogumjá que tentando ajudar Oxaguian “amassou as duas cabeças” que haviam sobrepostas e neste momento fundiu o quente e o frio e deu o equilíbrio necessário a um Orixá tão importante como Oxaguian. Por este feito os dois sempre andam e comem juntos.
Atorí – Isã
Atorí ou Isã é um apetrecho da cultura Nago em forma de cipó “vara”, feito de uma planta já extinta (glyphaca lateriflora abraham) substituída no Brasil pela Goiabeira ou Amoreira, inerente aos Orixás Nanã, Oxaguian, Obaluaye, Oxumare, Ossaim e Iansã, principalmente a Oya Igbale e muito utilizado nos cultos de egungun.
Tem a finalidade de afastar o eguns, afastar a morte, eliminar energias negativas, trazer saúde, paz, riqueza, bençãos e longevidade servindo ainda como arma de defesa para a guerra.
“Oxaguian, em sua primeira batalha, conheceu Oyá Onirá, uma guerreira suprema.
Ogun Já, Oxaguian Ajagunan e Oyá Onirá estavam lutando na guerra nas terras de Oyó, quando Oxaguian perdeu sua espada.
Oyá Onirá para para ajudá-lo, tinha uma vara nas costas (Atori), que ela carregava, pois esta vara era enfeitiçada e tinha muitos poderes: servia para defesa e guerra, afastava Ikú (a morte), as desgraças, os Eguns, trazia fartura, riqueza, longevidade e bençãos.
Oyá Onirá para não ver Oxaguian perder a guerra, deu sua vara “Atori” de presente a ele para que pudesse se defender.
— Oxaguian, você tem essa vara enfeitiçada e use para se defender, eu gosto de sangue, gosto de guerrear, fique com ela para você, disse Onirá.
Sendo assim, Oxaguian se tornou dono do temido Atorí!
Sobreviveu a guerra, e com aquele Atorí, queria conquistar um reino, assim partiu para as terras de Ejigbô, terra sem rei nem rainha, ali se tornou um grande patrono. Chegando nessa terra, tocou o solo com o Atori por três vezes e abençoou aquele lugar.”
Escudo – Asà ìjagun e Espada – Idà
Simbolizam virtude, bravura e poder, associados ao pilão como símbolo de justiça, representam a separação entre o bem e o mal.
A proteção do escudo bem como a força da espada também representam as lutas para conquistas espirituais, o vencer a si mesmo.
Vale observar que as representações mais adequadas de Oxaguian são com escudos redondos. Além do círculo ser símbolo universal do infinito, do universo, do todo, também tem importância muito observada no culto aos Orixás.
Coroa – Adé irin funfun
(coroa em metal branco) – Além de ser um ornamento típico do Reis, o fato de ser de metal alude a auto-transformação propiciada pela vontade de Ogum, a luta do homem jovem para se tornar o velho sábio.
A maior luta de Oxaguiã dentro de nós é para vencermos a nós mesmos!
Fontes:
Opaxorô, O Cetro dos Ancestrais – José Ricardo da Costa
O Candomblé – Fernando D’Osogiyan / Nelson Souza
nota: Raul Geovanni da Motta Lody, é um antropólogo, museólogo e professor brasileiro, responsável por vários estudos na área das religiões afro-brasileiras, sobretudo na Bahia.
Imagem em destaque: Oxalá by OradiaNCPorciuncula