Sentindo na pele

Terça feira passada, 08 de Janeiro de 2013, minha família sofreu com a perda de meu único irmão, vítima de enfarte na plenitude de seus 37 anos.

Acontece que faz 12 anos que cortei relações com ele, mas… os motivos não interessam mais.

Hoje, no Teoria da Conspiração, me deparei com um texto do Rafael Arrais, autor da coluna Textos para Reflexão intitulado Amar e Perder.  Em determinado trecho, está escrito:

…Em seus Ensaios sobre a amizade, Michel de Montaigne nos traz um exemplo do tipo [1]: “O falecido Senhor de Monluc, o marechal, quando conversou comigo sobre a perda do filho (um cavalheiro muito corajoso, de grande futuro, que morreu na Ilha da Madeira), enfatizou, entre outras tristezas, o luto e a mágoa que sentiu por nunca ter se mostrado para o filho e por ter perdido o prazer de conhecê-lo e aproveitar sua companhia. Tudo por causa de sua mania de lidar com ele com a gravidade de um pai rígido. Ele nunca falara sobre o imenso amor que sentia pelo filho e sobre como ele o considerava digno de sua virtude. ‘E tudo o que o pobre menino viu de mim’, disse ele, ‘foi um rosto fechado, cheio de desprezo. Ele se foi acreditando que eu não era capaz de amá-lo ou de julgá-lo como ele merecia. Para quem eu estava guardando tudo isso, a afirmação do amor especial que eu cultivava em minha alma? Será que ele não deveria ter sentido o prazer trazido por ela e todos os elos da gratidão? Eu me forcei, me torturei, para manter essa máscara boba e assim perdi a alegria de sua companhia – e também sua boa vontade, que deveria ser muito pouca para comigo. Ele nunca recebeu de mim nada além de rispidez ou conheceu nada além de uma fachada tirana’.”

Foi exatamente essa a minha estupidez: uma rigidez egoísta e tirana!  Não importam os motivos que me levaram a decidir agir assim.  Agi como se eu não errasse, ou melhor, como se meu irmão não pudesse errar.

É certo que ele não estava morto em meu coração; na verdade eu esperava pacientemente ver uma mudança em sua atitude para me reaproximar, mas… talvez eu estivesse esperando dele algo que eu mesmo não fiz.  Agora é tarde, vou ter que viver com isso!

Por falar em viver, há outra citação valiosíssima no mesmo texto do Rafael Arrais:

É então que, conforme nos alertou o Dalai Lama, vivemos como se não fôssemos morrer, e morremos como se jamais tivéssemos vivido

Pois é… nossa passagem por aqui é muito efêmera.  E posso assegurar: o tempo é por demais, valioso, para desperdiçarmos com atitudes idiotas e estúpidas; e aprender isso pelas mão do destino dói demais.  Tudo pode ser resolvido com um pouco de boa vontade e inteligência; virtudes que me faltaram.  E agora Amleto?

Confessar abertamente meu grave erro não me faz sentir melhor, mas talvez possa servir de alerta a alguém.  Se você que leu até aqui estiver adotando atitude parecida, reavalie. Vale todo o esforço!  E não perca a chance de ler na íntegra o texto do Rafael (aqui).  É muito bom!

Eric, a minha espera agora é pelo dia em que poderei lhe pedir perdão pessoalmente.

Este post tem 2 comentários

  1. Andreia

    Sabe Tô, não sou muito boa em palavras num momento triste como este, nem sei como me comportar….
    Somos humanos, erramos mais do que acertamos….mas com certeza tentando acertar e a fazer nosso melhor, somos falhos e como vc mesmo disse, acreditamos ter todo o tempo.
    Não se culpe nem se martirize por isso, vc teve seus motivos para agir desta forma…um dia vcs se encontrarão e então terão tempo para conversar e se entenderem, até lá, vc estará mais maduro e o Eric também.
    Desejo, peço a Deus e as entidades que ele tenha apoio, consolo, esclarecimentos e luz para essa passagem, que vc e seus familiares recebam o amor de Jesus suavizando a dor e a saudade desta perda.

    Adoro você demais , estou aqui para o que precisar.
    Um grande, forte e demorado abraço.
    Andréia

  2. Cassia

    Paixão o texto é lindo demais e verdadeiro, agora não sei o que te dizer, pois eu também fui cumplice sua e não falava com ele também…é muito dificil, doloroso, mas tenho certeza que você deu o seu melhor e acreditou nisso, como eu.
    A droga é que achamos que vai dar tempo para corrigimos tudo na vida, e nos enganamos, estou sempre do seu lado, para os acertos e erros, te amo.
    Bjsssssssssssss

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