Recentemente em Obaluaê a Luz da Kabbalah, estudamos e relacionamos o simbolismo da mitologia deste Orixá aos aspectos kármicos e estigmáticos de nossa reencarnação, nossa experiência na esfera de Malkuth onde nos submetemos à disciplina da matéria. Mas esta esfera ainda nos reserva aspectos muito interessantes , que podemos aprender através de três outros Orixás: Ewá, Oxumarê e Ossain – os irmãos de Obaluaê.
Ewá
Também conhecida como Ìyá Wa é a divindade do rio Yewa. Assim como Yemanjá e Oxum, também é uma divindade feminina das águas e, as vezes, associada a fecundidade. Ewá é casta, a Senhora das possibilidades, reverenciada como a dona do mundo e dona dos horizontes. Em algumas lendas aparece como a esposa de Oxumarê, pertencendo a ela a faixa branca do arco-íris, em outras como esposa de Obaluaiê ou Omulu.
Orixá que protege as virgens e tudo que é inexplorável. Ewá domina o poder da vidência, Senhora do Céu Estrelado, Rainha dos Cosmos. Ela está o lugar onde o homem não alcança. Seu símbolo é o arpão, pode também carregar um ofá dourado, uma espingarda ou uma serpente de metal. As palmeiras com folhas em leque também simbolizam Ewá – exótica, bela, única e múltipla. Na verdade ela mantém fundamentos em comum com Oxumarê, inclusive dançam juntos, mas não se sabe ao certo se seria a porção feminina, sua esposa ou filha.
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Ewá era filha de Nanã.
Também filhos de Nanã eram Obaluaê, Oxumarê e Ossaim.
Esses irmãos regiam o chão da Terra.
A terra, o solo, o subsolo, era tudo propriedade de Nanã e sua família.
Nanã queria o melhor para seus filhos, queria que Ewá casasse com alguém que a amparasse.
Nanã pediu a Orunmilá bom casamento para Ewá.
Ewá era linda e carinhosa.
Mas ninguém se lembrou de oferecer sacrifício algum para garantir a empreitada.
Vários príncipes ofereceram-se prontamente a desposar Ewá.
E eram tantos os pretendentes que logo uma contenda entre eles se armou.
A concorrência pela mão da princesa transformou-se em pugna incessante e mortal.
Jovens se digladiavam até a morte.
Vinham de muito longe, lutavam como valentes para conquistar sua beleza.
Mas a cada vencedor, Ewá não se decidia.
Ewá não aceitava o pretendente.
Vinham novos candidatos e outros combates.
Ewá não conseguia decidir-se, ainda que tão ansiosa estivesse para casar-se e acabar de vez com o sangrento campeonato.
Tudo estava feio e triste no reino de Nanã; a terra seca, o sol quase se apagara.
Só a morte dos noivos imperava.
Ewá foi então à casa de Orunmilá para que ele a ajudasse a resolver aquela situação desesperadora e pôr um fim àquela mortandade.
Ewá fez os ebós encomendados por Ifá.
Os ventos mudaram, os céus se abriram, o sol escaldava a terra e, para o espanto de todos, a princesa começou a desintegrar-se.
Foi desaparecendo, perdendo a forma, até evaporar-se completamente e transformar-se em densa e branca bruma.
E a névoa radiante de Ewá espalhou-se por toda a Terra.
E na névoa da manhã Ewá cantarolava feliz e radiante.
Com força e expressões inigualáveis cantava a bruma.
O Supremo Deus determinou então que Ewá zelasse pelos indecisos amantes,
olhasse seus problemas, guiasse suas relações.
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Ewá é descrita como a linha do horizonte, uma linha que separa o céu da terra e do mar, a tangência que limita os dois mundos, algo que aos olhos físicos se figura muito distante, inalcançável. Simboliza o plano astral visto daqui….ou “não visto”.
Na lenda, os pretendentes de Ewá empreendiam contendas mortais, sem no entanto conseguir desposá-la, mas quando ela se transformou em névoa pôde zelar por seus pretendentes.
É fora de questão que nossa busca espiritual é o melhor caminho para o aprendizado em Malkuth, para a cura de nossas doenças psíquicas (as chagas de Obaluaê), mas essa espiritualidade não é algo que alcance tão facilmente como um diploma ou título por nomeação; não é chuva nem tempestade, antes disso uma suave bruma, verdadeira névoa que sutilmente vai, pouco a pouco, umedecendo nossa alma.
A Névoa: Simboliza o indeterminado. Retrata uma fase de transição onde ainda não se divisa o que vem pela frente e também ainda não nos encontramos livres das formas do passado. A sua representatividade em algumas pinturas japonesas, seja na forma vertical ou horizontal, simbolizam sempre um momento de passagem, perturbação ou transição da narrativa. É sempre um período transitório entre dois estados. O prelúdio de algo importante que está por vir.
Quando encarnados, envoltos em nossas preocupações materiais no mundo físico, é fácil passar a vida toda sem atentar para o fato de nossa existência ser algo muito maior que esta encarnação. Quando em algum momento, finalmente nos damos conta que a vida não se encerra depois da morte (desencarne), isso se dá quase sempre através de um contato, em qualquer nível que seja, com o lado espiritual. Essa oportunidade de sentir, ou melhor, de despertar espiritualmente e começar compreender a grandiosidade da obra de Deus, está sempre ao nosso alcance, mas de forma sutil (ou quase sempre rs), como uma leve sensação, uma leve desconfiança…ou como uma leve neblina; ao alcance de todos!
E assim deve-se desenvolver a espiritualidade em cada um de nós, suave e constantemente. Não é uma fonte onde devamos nos esbaldar, quero dizer, não pode ter pressa nem fanatismo, não se alcança na marra; tem que ser desenvolvida e compreendida com calma e segurança.
O aspecto da castidade de Ewá também está relacionado com esse desenvolvimento da espiritualidade; significa que a terra em nosso interior para ser fecundada ainda virgem, pura, sem a influência de agrotóxicos como vaidade, orgulho ou mesmos desejos mais baixos para utilização mediúnica; deve brotar naturalmente, ser regada regularmente e receber diariamente a luz solar…nada mais.
Esse o aspecto em Malkuth, em nossa passagem pela carne, que chamamos de Ewá; o sutil contato astral que está ao nosso alcance, que promove nosso despertar, remédio único que pode curar nossas chagas.
Ewá é presa no formigueiro por Omulú
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Ewá era uma caçadora de grande beleza, que cegava com veneno quem se atrevesse a olhar para ela.
Ewá casou-se com Omulú, que logo demonstrou ser marido ciumento.
Um dia, envenenado pelo ciúme doentio, Omulú desconfiou da fidelidade da mulher e a prendeu num formigueiro.
As formigas picaram Ewá quase até a morte e ela ficou deformada e feia.
Para esconder sua deformação, sua feiúra, Omulú então a cobriu com palha-da-costa vermelha.
Assim todos se lembrariam ainda como Ewá tinha sido uma caçadora de grande beleza.
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A Formiga: é um símbolo de atividade industriosa, de vida organizada em sociedade, de previdência, que La Fontaine leva até o egoísmo e a avareza. O budismo tibetano faz também da formiga no formigueiro um símbolo de vida industriosa e de apego excessivo aos bens deste mundo.
*Jean de La Fontaine: Poeta e Fabulista francês, considerado o pai da fábula moderna. A sua grande obra, “Fábulas”, falava da vaidade, estupidez e agressividade humanas através de animais.
Sobre esta segunda lenda (itan) não há muito o que acrescentar; considerando o simbolismo da formiga e que Omulú está relacionado a nossa encarnação, descreve o “não despertar” espiritual face aos apelos mundanos. Assim é matar a possibilidade sagrada que temos, transformando-a em algo feio e disforme e depois…esconder sob a palha!
Oxumarê
Oxumarê é um Orixá complexo, suas funções são múltiplas. Na Mitologia yorubá é considerado o Orixá dos movimentos e de todos os ciclos. Senhor da mobilidade e da atividade, é representado pela cobra e pelo arco-íris, por isso é considerado o senhor de tudo o que é alongado, como, por exemplo, o cordão umbilical que significa a ligação entre o velho e o novo, entre os homens e seus antepassados, a continuidade. Em sua mitologia é filho mais novo e preferido de Nanã. É irmão de Omulu, Ewa e Ossain.
Representado por uma serpente que morde a própria cauda (Ouroboros), se mostra como símbolo da continuidade e permanência. Ao mesmo tempo em que representa a movimentação e mobilidade da Terra, com seus movimentos de rotação e translação, segundo Verger, Oxumarê enrola-se em volta da terra para impedi-la de se desagregar. Se perdesse as forças, isso seria o fim do mundo. Portanto, ele controla os movimentos para que não sejam nem rápidos nem lentos demais.
Seus domínios estão nos movimentos regulares, que não podem parar, como a alternância entre chuva e sol, dia e noite, frio e calor, positivo e negativo. O arco-íris, a grande serpente colorida, representa a comunicação entre o céu e a terra, um elo entre os dois.
Oxumarê é um Orixá ambíguo, macho e fêmea, belo (arco-íris) e perigoso (serpente), céu e terra, exprime, portanto a dualidade, a união dos opostos. A vida se expressa por meio do conflito entre os opostos, estar vivo é estar em meio aos opostos, dia e noite, sofrimento e prazer, calor e frio. Podemos afirmar, então, que Oxumarê exprime a vida humana, encarnada.
Oxumarê mostra a necessidade de movimento e de transformação. Ele é o movimento psíquico, a dinâmica entre o inconsciente e o consciente, a relação entre ego e Self.
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Conta-se que Oxumarê não tinha simpatia pela chuva.
Toda vez que ela reunia suas nuvens e molhava a terra por muito tempo, Oxumarê apontava para o céu ameaçadoramente com sua faca de bronze e fazia com que a chuva desaparecesse, dando lugar ao arco-íris.
Um dia Olodumare contraiu uma moléstia que o cegou.
Chamou Oxumarê, que da cegueira o curou.
Olodumare temia, entretanto, perder de novo a visão e não permitiu que Oxumarê voltasse à Terra para morar.
Para ter Oxumarê por perto, determinou que morasse com ele, e que só de vez em quando viesse para a Terra em visita, mas só em visita.
Enquanto Oxumarê não vem à Terra, todos podem vê-lo no céu com sua faca de bronze, sempre se fazendo no arco-iris para estancar a chuva.
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Considerando o ir e vir de Oxumarê citado na lenda e sua característica de movimento contínuo é imediata sua associação a este trecho de Dion Fortune:
“De acordo com a doutrina cabalística, o Relâmpago Brilhante, alcançando seu ponto terminal em Malkuth, é substituído pelo simbolismo da Serpente da Sabedoria, cujas espirais sobem pelos Caminhos até que sua cabeça repouse atrás de Kether. O Relâmpago Brilhante representa a descida inconsciente da força, que edifica os planos de manifestação e passa do ativo ao passivo, retomando ao ponto de partida para que o equilíbrio possa ser mantido. A Serpente que se enrosca nos Caminhos representa a aurora da consciência objetiva, e é o símbolo da iniciação; no Caminho trilhado pelos iniciados, que estão sempre à frente de sua época, a evolução se põe em marcha, conduzindo consigo a raça como um todo.”
Em seu aspecto macro-cósmico, Oxumarê representa este ciclo contínuo da Manifestação Divina, desde sua Fonte Primordial Ativa chegando ao nosso mundo físico passivo e formativo, e recomeçando tudo de novo.
No aspecto micro-cósmico, podemos considerar nosso ciclo de encarne e desencarne, de vivência sucessiva nos planos espiritual e material, como clico evolucionário. Dentro deste ciclo, no momento em que experimentamos as chagas de Obaluaê como conseqüências de nossos desequilíbrios nos vários arquétipos resultantes das manifestações divinas, é que a dor finalmente vai nos ensinar a lições que teimosamente só conseguimos aprender na matéria.
Nossa evolução se dá por Oxumarê!
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Oxumaré fica no céu
Controla a chuva que cai sobre a terra.
Chega a floresta e respira como o vento.
Pai venha até nós para que cresçamos e tenhamos longa vida.
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Quanto simbolismo…
Chuva: Representante das bênçãos do céu fecundando o solo, a chuva é o mais expressivo símbolo das influências celestes recebidas pela terra. É o agente condutor da fertilidade, da revivificação, o princípio ativo celeste do qual toda manifestação tira a sua existência. É a graça e também a sabedoria.
Floresta: À semelhança de outros símbolos e bem coerente com a dualidade de Oxumarê, também a floresta apresenta uma evidente vertente dual: além de santuário natural, local privilegiado de diálogo com os deuses e convite à interioridade e à meditação, também pode tornar-se “locus horrendus”, devorador e terrífico, selva virgem onde espreitam mil perigos e armadilhas. Este símbolo em muito se assemelha com as possibilidades que podemos fazer de nossa encarnação. Pode também ser lembrado o Jardim do Éden…
Vento: Simboliza o sopro espiritual de origem celeste. Os ventos são também considerados mensageiros divinos e por vezes até representantes do próprio Espírito de Deus. “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.” (Gênesis 2:7)
e mais…
Arco-íris: O arco-íris simboliza muitas vezes transfiguração, e se comporta como uma ponte entre a Terra e o Paraíso. Na cultura cristã é símbolo de Deus com seu povo, após o dilúvio. “O meu arco tenho posto nas nuvens; este será por sinal da aliança entre mim e a terra.” (Gênesis 9:13)
Ouroboros: ou Oroboro é uma criatura mitológica em forma de serpente, minhoca, cobra ou dragão que engole a própria cauda formado um círculo e, por isso, simboliza o ciclo da vida, a eternidade, a mudança, o tempo, a espiral da evolução, a fecundação, o nascimento, a morte, a ressurreição, a criação, a destruição, a renovação, o movimento contínuo. Às vezes, mostrado por dois animais míticos, um devorando o outro através da cauda. Em diversas culturas, Ouroboros, representado de forma circular, faz referência à criação do Universo, e pode simbolizar a continuidade, o tempo, o eterno-retorno e o renascimento na Terra.
Primeiramente, vale lembrar que o termo “Ouroboros” vem do grego, formado pelas palavras: “oura” que significa “cauda” e “boros” do verbo “comer” ou “devorar”. Existe outra linha de estudiosos afirmando que a origem etimológica do termo “Ouroboros” vem do hebraico, na qual “ouro”, significa Rei, e “ob” significa serpente.
No budismo, a Ouroboros simboliza o olhar para si como forma de evoluir espiritualmente, marcado pela ausência de início e fim.
Ossain
É fundamental sua importância, porque detém o reino e poder das plantas e folhas, imprescindíveis nos rituais e obrigações de cabeça e assentamento de todos os Orixás através dos banhos feitos de ervas. Como as folhas estão relacionadas com a cura, Ossain também está vinculado à medicina, por guardar escondida na sua floresta a magia da cura para todas as doenças dos homens, contida nas virtudes de todas as folhas. A cura é invocada no caso de doença, com o auxílio de Obaluaê.
Divindade Masculina, do ar livre, que governa toda a floresta, juntamente com Oxossi, dono do mistério das folhas e seu emprego medicinal ou sua utilização mágica. Dono do axé (força, poder, fundamento, vitalidade e segurança) existentes nas folhas e nas ervas, ele não se aventura nos locais onde o homem cultivou a terra e construiu casas, evitando os lugares onde a mão do homem poluiu a natureza com o seu domínio.
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Ossain, filho de Nanã e irmão de Oxumarê, Ewá e Obaluayê, era o senhor das folhas, da ciência e das ervas, o Orixá que conhece o segredo da cura e o mistério da vida.
Todos os orixás recorriam a Ossain para curar qualquer moléstia, qualquer mal do corpo.
Todos dependiam de Ossain na luta contra a doença.
Todos iam à casa de Ossain oferecer seus sacrifícios.
Em troca Ossain lhes dava preparados mágicos: banhos, chás, infusões, pomadas, abô, beberagens.
Curava as dores, as feridas, os sangramentos; as disenterias, os inchaços e fraturas; curava as pestes, febres, órgãos corrompidos; limpava a pele purulenta e o sangue pisado; livrava o corpo de todos os males.
Um dia Xangô, que era o deus da justiça, julgou que todos os Orixás deveriam compartilhar o poder de Ossain, conhecendo o segredo das ervas e o dom da cura.
Xangô sentenciou que Ossain dividisse suas folhas com os outros Orixás. Mas Ossain negou-se a dividir suas folhas com os outros Orixás.
Xangô então ordenou que Iansã soltasse o vento e trouxesse ao seu palácio todas as folhas das matas de Ossain para que fossem distribuídas aos Orixás.
Iansã fez o que Xangô determinara. Gerou um furacão que derrubou as folhas das plantas e as arrastou pelo ar em direção ao palácio de Xangô.
Ossain percebeu o que estava acontecendo e gritou: “Euê Uassá!”
“As folhas funionam!”
Ossain ordenou às folhas que voltassem às suas matas e as folhas obedeceram às ordens de Ossain.
Quase todas as folhas retornaram para Ossain.
As que já estavam em poder de Xangô perderam o Axé, perderam o poder da cura.
O Orixá Rei, que era um Orixá justo, admitiu a vitória de Ossain. Entendeu que o poder das folhas devia ser exclusivo de Ossain e que assim devia permanecer através dos séculos.
Ossain, contudo, deu uma folha para cada Orixá, deu uma euê para cada um deles.
Cada folha com seus axés e seus efós, que são as cantigas de encantamento, sem as quais as folhas não funcionam.
Ossain distribuiu as folhas aos Orixás para que eles não mais o invejassem.
Eles também podiam realizar proezas com as ervas, mas os segredos mais profundos ele guardou para si.
Ossain não conta seus segredos para ninguém, Ossain nem mesmo fala.
Fala por ele seu criado Aroni.
Os Orixás ficaram gratos a Ossain e sempre o reverenciam quando usam as folhas.
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Dion Fortune nos fornece a chave para começarmos a entender esse Orixá:
“É fora de questão que grandes forças espirituais podem atuar eficazmente na cura de nossas doenças, mas elas precisam ter um canal de manifestação; e por que deveríamos fazer um esforço sobre-humano para construir um canal psíquico quando temos outro ao alcance das mãos?
Deus manifesta Seus milagres de uma maneira misteriosa apenas enquanto a lei natural é um livro selado para nós; mas, quando compreendemos os meios do trabalho da natureza, vemos que Deus age de uma maneira perfeitamente natural, por meio de canais regularmente estabelecidos; a diferença entre o natural e o sobrenatural não reside nos canais de manifestação empregados, mas na quantidade de força que se manifesta através deles. O que varia não é a qualidade, mas a quantidade do fluxo de força quando as forças espirituais são evocadas com sucesso.”
Nós humanos não somos a única forma de vida no plano físico; mesmo considerar todo o reino animal é pouco. A Vida, ainda que em porções infinitesimais, habita toda forma organizada, mesmo as substâncias que chamamos inorgânicas. Em algumas formas de matéria orgânica, contudo, a proporção de vida não é, em absoluto, negligenciável, assim como nas plantas a proporção de inteligência não é em absoluto descartável.
Consideramos a mediunidade como a única forma de contato com planos superiores, mas esquecemos que a vida que habita tudo, incluindo as plantas, vem de Deus e como tal, também fazem parte de Sua Manifestação.
Se com Ewá entendemos que podemos, como médiuns, “sintonizar” energias superiores a partir do plano material da terra, com Ossain aprendemos que estas energias superiores também chagam até nós por canais regulares da natureza, e podemos assim utilizá-las nos beneficiando dessas Manifestações Divinas sem para tanto estarmos envolvidos nessa operação como canal.
Ossain nos ilustra isso a partir dos efeitos curativos (mas também ao contrário) das folhas, sejam como banhos, ebós, defumação, infusões, etc, mas embora de maneira muito mais forte no reino vegetal, não é apenas desse reino que podemos nos beneficiar das emanações Divinas. Como vimos anteriormente, toda forma organizada, mesmo as inorgânicas, contém sua porção de Vida, senão que valor teriam as otás (pedras) usadas em assentamentos? O mesmo vale para o ferro ou outros metais identificados com cada Orixá. E a proibição de usar metal com Nanã? Não conteria, por acaso, este mineral a energia de Ogum?
Tudo, absolutamente toda forma organizada, contem sua parcela de energia Divina, de Vida e, voltando as folhas de Ossain, vimos na lenda que cada Orixá ganhou uma folha de Ossain. Dizer que Ossain deu a cada Orixá uma folha significa que vamos encontrar uma parcela específica de Vida, ou seja, uma parcela que sintoniza exatamente com determinado Orixá, com determinada Manifestação Divina, na Natureza. Por exemplo, quando estivermos manipulando uma folha de Peregum, estaremos manipulando uma parcela desta energia de Ogum, pois é exatamente esta energia de Ogum, também de Marte, também de Geburah, que influencia esta folha.
Um dos símbolos de Ossain é o pássaro…
Pássaro: O pássaro simboliza a inteligência, a sabedoria, a leveza, o divino, a alma, a liberdade, a amizade. Por possuírem asas e o poder de voar, em muitas culturas são considerados mensageiros entre o céu e a terra.
…Justamente simbolizando o nosso contato com o céu através da natureza. No sentido do céu para a terra, representa a Vida encontrada na natureza (e em toda forma organizada); no sentido da terra para o céu representa o uso que damos as folhas de Ossain (e a toda forma organizada) para atingirmos esferas superiores, mesmo nossos corpos mais sutis.
Aroni: Encontramos várias descrições sobre este amigo de Ossain que vive com ele nas matas; essas descrições convergem para a descrição de um anão, caolho ou com um olho maior que o outro e com uma só perna. Também encontra-se referências sobre ele ser um Encantado (elemental) que vive na parte mais profunda da floresta, sendo o responsável por todo o conhecimento das folhas que Ossain tem. Não mais que isso.
Mas, em vista do que vimos até aqui, podemos tirar algumas conclusões sobre alguns dos simbolismos desta descrição. O fato de ter apenas uma perna, ou apenas um pé, significa que seu contato com o chão (Malkuth) é menor; por conseqüência seu contato com o astral é maior. O mesmo ocorre com o fato de ter um olho a menos ou menor; significa “olhar menos”, dar menos atenção ao que se pode ver com os olhos carnais desviando sua “visão” para os “canais regulares” por onde a energia do Criador flui incessavelmente no plano denso material.
Finalizando
No plano físico, com Obaluaê entendemos nosso processo de evolução através do aprendizado da matéria, a dor das chagas que nós mesmos causamos e a transmutação através da evolução. No Plano Astral até podemos aprender sobre, por exemplo, o Equilíbrio (Justiça) de Xangô, mas só teremos isso como convicção quando experimentarmos os resultados do trato desequilibrado da justiça, durante nossa existência física, na própria pele, em chagas causadas por nossas atitudes mentais desequilibradas.
Ewá nos mostra que o Plano Espiritual, Plano Astral ou Plano Superior – O Orun – está ao nosso alcance; de uma forma sutil que não se alcança pela carne, não se vê com os olhos (por isso é sábio o sincretismo com Santa Luzia) mas só estará exilado aqui quem assim o quiser.
Ossain nos ensina que não só pela mediunidade pode-se entrar em contato com energias Divinas, mas que estas estão presentes em toda forma organizada, orgânica ou não. No plano, seja o Reino Animal, Vegetal ou mesmo no Mineral, tudo possui Vida, tudo é obra do Criador.
Oxumarê nos ensina a Vida depende do movimento, em todos os sentidos e em todos os níveis. Assim como os movimentos de rotação e translação da Terra (como ilustrado nos itans) permitem o equilíbrio necessário para que toda a vida exista aqui, inclusive o próprio planeta, podemos observar a necessidade deste movimento desde o nível atômico (e até sub-atômico) onde os elétrons giram em torno de um núcleo até as galáxias e o próprio universo. No nosso caso microcósmico, este movimento é nossa passagem cíclica e alternada pelos planos da carne e astral.
Fontes Consultadas:
A Cabala Mística – Dion Fortune
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi
Orixás – Pierre Fatumbi Verger
Dicionário de Símbolos – Jean Chevalier e Alain Gheerbrant
Dicionário de Símbolos – Herder Lexikon
Apostila Curso de Umbanda / Ewá – Sociedade Espiritualista Mata Virgem
Apostila Curso de Umbanda / Oxumarê – Sociedade Espiritualista Mata Virgem
Apostila Curso de Umbanda / Ossain – Sociedade Espiritualista Mata Virgem
web: La Fontaine
web: Oxumarê – Hellen Reis Mourão
web: Bíblia Online
web: Os Orixás e a Kabbalah / Marcelo Deldebbio
Imagens:
Ewá – Estátua em resina – Camasi Guimarães
Oxumarê / Ossain – (fotografia) – Yoruba African Orishas Series
Oi tudo bem! Estou em Santo André e gostaria de saber se na casa de vocês homem pode incorporar pombagira ou se há algum tabu/preconceito.
Olá Mateus, salve suas Forças
Não meu caro, não há preconceito ou proibição quanto a um homem incorporar Pombagira assim como não há contra uma mulher incorporar um Exu. Entendemos que nenhuma entidade jamais vai prejudicar ou alterar o médium de qualquer forma.
Mas há um porém! Sabemos que a Pombagira é uma entidade feminina, representa o sagrado feminino, ela expressa as características da mulher, valoriza o poder feminino, coisa e tal…de forma que quando uma Pombagira incorporar em um médium homem, o que observaremos é algo um tanto sutil; esse médium deve apresentar expressões mais doces, pode até alterar o tom e a forma de falar mas nada além disso, não vai chegar a agir como uma mulher, não vai sair rebolando ou até agindo como se fosse uma prostituta (isso vale para médiuns homens e mulheres).
Ocorre que Exus e Pombagiras tem a característica de exteriorizar o íntimo do médium, inclusive extravasam aquilo que está em desequilíbrio, o que explica muitos dos absurdos que vemos por aí, são o caso de médiuns que estão em desequilíbrio e ao incorporarem essas linhas, perdem o respeito pelos outros, começam a agir de forma totalmente despudorada, etc. Isso caracteriza um problema exclusivamente do médium, jamais da entidade e se ocorrer, precisa ser freado e corrigido; o médium precisa de ajuda. E isso não pode ser confundido com preconceito.
Fique na Paz de nosso Pai Oxalá
Apesar de atualmente serem dados outros irmãos à Obaluaiê, a exemplo de Exú, Iroko, Yewá e Ossãe. Tradicionalmente, apenas Oxumarê é considerado como sendo seu irmão mítico.
Todos esses Orixás, possuem enredo com Omolu-Obaluaiê, a exemplo de Yewá, considerada sua esposa. E Ossãe, que possui profundo conhecimento das propriedades medicinais das plantas.
Contudo, sua família mítica é composta de Nanã (sua mãe) e Oxumarê (seu irmão), esse elo familiar é magnificamente dramatizado durante a longa Cerimônia do Olubajé.
Olá Manoel, seja bem vindo, Salve suas forças
Obrigado pela participação; o itan logo no início (que apresenta Obaluaê, Ewá, Oxumarê e Ossain como irmãos) é parte da pesquisa de Reginaldo Prandi em sua obra Mitologia dos Orixás.
Dentro do contexto deste post, observamos que estes Orixás estão ligados aos aspectos mais densos (da vida corpórea) dos homens encarnados, sendo portanto (além do itan) muito válido sua compreensão como irmãos.
Fique na Paz de nosso Pai Oxalá
*sobre Reginaldo Prandi: http://www.fflch.usp.br/sociologia/prandi/