Ele quase não viu a senhora, com o carro parado no acostamento. Chovia forte e já era noite. Mas percebeu que ela precisava de ajuda. Assim parou seu carro e se aproximou. O carro dela cheirava a tinta, de tão novo. Ele iria aprontar alguma? Ela pensou…
Ele não parecia seguro, parecia pobre e faminto. Ele pode ver que ela estava com muito medo e disse: Eu estou aqui para ajudar madame, não se preocupe. Por que não espera no carro onde está mais quente? A propósito, meu nome é Carlos.
Bem, tudo que ela tinha era um pneu furado, mas para uma senhora de idade avançada era ruim o bastante. Carlos abaixou-se, colocou o macaco e levantou o carro. Logo ele já estava trocando o pneu. Mas ficou um tanto sujo e ainda feriu uma das mãos.. Enquanto apertava as porcas da roda ela abriu a janela e começou a conversar com ele. Contou que era da capital e que só estava ali de passagem e que não sabia como agradecer pela preciosa ajuda. Carlos apenas sorriu enquanto se levantava. Ela perguntou quanto lhe devia. Qualquer quantia teria sido pouco para ela. Já que tinha imaginado todas terríveis coisas que poderiam lhe ter acontecido se Carlos não tivesse parado e ajudado.
Carlos não pensava em dinheiro, aquilo não era um trabalho para ele! Gostava de ajudar quando alguém tinha necessidade e Deus já lhe havia ajudado bastante. Este era seu modo de viver e nunca lhe ocorreu agir de outro modo. E respondeu:
– Se realmente quiser me pagar, da próxima vez que encontrar alguém que precise de ajuda, dê para aquela pessoa a ajuda de que ela precisar. E acrescentou: e lembre-se de mim. Esperou até que ela saísse com o carro e também se foi.
Tinha sido um dia frio e deprimente, mas ele se sentia bem, indo para casa, desaparecendo no crepúsculo. Alguns quilômetros depois a senhora parou seu carro num pequeno restaurante. Entrou para comer alguma coisa. Era um restaurante simples, e tudo ali era estranho para ela. A garçonete veio até ela e trouxe-lhe uma toalha limpa para que pudesse esfregar e secar o cabelo molhado e lhe dirigiu um doce sorriso, um sorriso que mesmo os pés doendo por um dia inteiro de trabalho não conseguiram apagar. A senhora notou que a garçonete estava com quase oito meses de gravidez, mas ela não deixou a tensão e as dores mudarem a sua atitude. A senhora ficou curiosa em saber como alguém que tinha tão pouco, podia tratar tão bem a uma estranha. Então se lembrou de Carlos.
Depois que terminou a sua refeição, e enquanto a garçonete buscava troco para a nota de cem reais, a senhora se retirou. Já tinha partido quando a garçonete voltou. A garçonete ainda queria saber onde a senhora poderia ter ido quando notou algo escrito no guardanapo, sob o qual tinha mais 4 notas de R$ 100. Existiam lágrimas em seus olhos quando leu o que a senhora lhe escreveu:
— Você não me deve nada, eu já tenho o bastante. Alguém me ajudou hoje e da mesma forma estou lhe ajudando. Se você realmente quiser me reembolsar por este dinheiro, não deixe este círculo de amor terminar com você, ajude também alguém.
Bem, havia mesas para limpar, açucareiros para encher, e pessoas para servir, e a garçonete voltou ao trabalho enxugando suas lágrimas. Aquela noite, quando foi para casa cansada e deitou-se na cama, seu marido já estava dormindo e ela ficou pensando no dinheiro e no que a senhora deixou escrito. Como pôde aquela senhora saber o quanto ela e o marido precisavam disto?
Com o bebê que estava para nascer no próximo mês, como estava difícil! Ficou pensando na bênção que havia recebido, deu um grande sorriso, agradeceu a Deus e virou-se para o preocupado marido que dormia ao lado. Deu-lhe um beijo macio e sussurrou:
— Tudo ficará bem; eu te amo… Carlos!