[box] do livro Ciganos, os Filhos do Vento de Lourivaldo Perez Baçan.[/box]
O conhecimento de artes divinatórias, a prática da astrologia e o domínio de conhecimentos reservados apenas aos iniciados do seu povo fizeram com que os ciganos fossem perseguidos, do século XV até hoje.
Livros foram escritos sobre esses conhecimentos. Muitos chegam ao ponto de tentar ensinar aos gadjos as artes que, ao longo dos séculos, foi domínio único dos ciganos.
O que para os gadjos é objeto de estudo e de muita prática, para os ciganos é algo instintivo, natural, como se os membros desse povo já nascessem predispostos a essas práticas chamadas de mágicas, mas que, na realidade, não escondem segredos.
Estão presentes principalmente em práticas curativas, onde o uso de metais, como o ouro e outros, é fonte de cura praticamente desconhecida pelos gadjos.
O uso de lenços coloridos como instrumento de cura é também um segredo antigo e pouco conhecido.
Dentro desse assunto, um dos mistérios que mais maravilharam o mundo foi o do Pó Simpático, desenvolvido a partir da manipulação do cobre, que sempre foi o metal dos ciganos por excelência.
Segundo a Alquimia, o cobre é o metal de Vênus, planeta cintilante que produz no homem e na natureza o desenvolvimento do amor, do senso estético de beleza, criatividade, delicadeza e arte.
A substituição desse metal, nos utensílios de cozinha e de decoração tem privado as pessoas de uma rica fonte de energia e harmonia. O uso de metais menos nobres, como o alumínio, tem enfraquecido a natureza divina que há nos seres humanos.
Em todos os aspectos, o cobre contribui para harmonizar, não apenas em relação à saúde, mas também à capacidade de amar e de se realizar sexualmente.
Muito embora introduzido pelos ciganos já na sua chegada à Europa, o Pó da Simpatia só foi usado mais abertamente a partir do século XVII, uma vez que, no auge das perseguições da Inquisição, sua utilização era relacionada a pactos com o demônio, prática de magia negra e outras superstições com as quais perseguiram e sacrificaram milhares de ciganos, naquele período negro da História da Civilização.
O Pó da Simpatia nada mais é que o sulfato de cobre ou vitríolo de cobre, obtido pelo aquecimento desse metal, juntamente com o enxofre.
Hoje em dia o sulfato de cobre tem aplicações industriais, embora recentemente tenha se voltado novamente a estudar essa prática, tentando interpretar os efeitos provocados por ele.
Segundo os sábios medievais, que tentaram explicar essa prática dos ciganos, o conceito do Pó da Simpatia é que cada minúscula parte de um corpo vivo, mesmo quando arrancada dele, mantém-se ainda ligado através de um campo de vibração etérico.
Modernamente, as fotografias Kirliam comprovaram esse efeito, mostrando a aura completa de uma folha, por exemplo, mesmo após ela ter sido mutilada. A parte arrancada apresentava-se com outras características, mas estava presente, mostrando que mantinha com a porção original algum tipo de ligação.
O mesmo princípio é utilizado nas magias vodus, ao se usar um pedaço de unha ou fios de cabelo de uma pessoa, aplicados num boneco, para representá-la.
Na verdade, muito do conhecimento armazenado pelos magos e sábios antigos perdeu-se totalmente nas perseguições e gigantescas fogueiras que alimentaram os Autos de Fé por toda a Europa, principalmente. Manuscritos de alto valor foram incinerados pelo temor de um conhecimento além do alcance das mentes limitadas da época.
O princípio curativo do Pó da Simpatia, por exemplo, manifestava-se da seguinte forma: Uma pessoa ferida por uma lâmina, onde ficassem vestígios de seu sangue, seria curada se essa lâmina, ou mesmo uma atadura com seu sangue, fosse mergulhada numa vasilha contendo água e vitríolo de cobre.
Na primeira metade do século XVII, inclusive, diversas obras sobre as vantagens e o uso do Pó Simpático foram publicados, inclusive com testemunhos fidedignos na época.
Nas boticas, por muito tempo, o Pó da Simpatia era vendido livremente, recomendado para ser posto na bebida de uma terceira pessoa, com o objetivo de melhorar seu ânimo e seu humor.